A Arte da Perda, de Tishani Doshi
A Arte da Perda
Tishani
Doshi
(n.
1975,
Índia)
Trad.
Diego Callazans
Tudo
começa com a morte
dalgum bichinho de infância –
o cão que evita a comida
por dias, pássaro ou peixe
que encontras de lado, estático.
E imaginas que o rombo
no universo,
causado pela emissão
de tua dor, é tão profundo
que nunca será fechado.
Mas é tão só o princípio
de uma litania infinita
dalgum bichinho de infância –
o cão que evita a comida
por dias, pássaro ou peixe
que encontras de lado, estático.
E imaginas que o rombo
no universo,
causado pela emissão
de tua dor, é tão profundo
que nunca será fechado.
Mas é tão só o princípio
de uma litania infinita
de
desencantos:
a crueldade da escola,
o merda do ex-namorado,
o filho de algum vizinho
que ficou louco aos poucos.
Tu te agarras à perda,
que logo está em toda parte –
tantos mendigos na rua,
os gritos de uma guerra ao longe
atormentando teu sono.
E quando o avô se arrasta
a crueldade da escola,
o merda do ex-namorado,
o filho de algum vizinho
que ficou louco aos poucos.
Tu te agarras à perda,
que logo está em toda parte –
tantos mendigos na rua,
os gritos de uma guerra ao longe
atormentando teu sono.
E quando o avô se arrasta
até
a cômoda e
feito
uma
garota alivia
sem
se importar
que
está aberta
a
porta,
tu
compreendes
o
que é mesmo existir
num
mundo à parte.
Ao seu redor ficam velhos
Ao seu redor ficam velhos
e
morrem
todos,
e é dito
que
isso
é
como
uma
partida
–
se vai a Deus, ou ao pó, ou reviver
numa formiga. E novamente
esperam que aceites calma
se vai a Deus, ou ao pó, ou reviver
numa formiga. E novamente
esperam que aceites calma
o
fato de não
mais ver
os
que morrem,
não
ouvirás
quando
entram
ou
vão
embora,
não sentirás quando roçam
não sentirás quando roçam
a
mão no suave
das
tranças.
Aceita,
dizem os pais:
isso não é nada.
Espera até que tua tia
isso não é nada.
Espera até que tua tia
capote
perto
de um shopping,
ou
que
o
garoto que amaste
derrape ravina abaixo e sobreviva,
derrape ravina abaixo e sobreviva,
mas
nunca
ande de novo.
Isso te arderá de fato,
Isso te arderá de fato,
te
levará mesmo a quase cortar
os pulsos
(é
uma
metáfora,
claro,
porque
és
forte e bem
sabes
que
a vida é sempre a
tais
coisas sobreviver).
E
suportar
tudo isso
seria
quase
possível se
fosse esse
o
fim.
Mas algum
dia
teus
pais
vão se esgueirar no jardim
vão se esgueirar no jardim
para
deitar
sob
estrelas,
e
fenecer,
como a grama
que
feito
musgo se acinza.
E deves tu permitir.
E deves tu permitir.
E
não
só
isso.
Deves
deixá-los seguir
para
o infinito
e
entender que, em
breve,
serás chamada a um canto
serás chamada a um canto
pra
deitar fora tuas
asas
e
mergulhar no oblívio
com
o mesmo
nada.
Como
se
não fosse nada.
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