Dois poemas inéditos


[guerra]

lamentos secos
redigem convites
para um bailado
impossível.

o que fazer quando
cessar o infinito
e as aves curvas,
refestelando-se,
abrirem o vácuo?

não resta muito ao sábio
que inebriar-se
no poço
do próprio umbigo.

breve descerão as setas
tonitruantes
e os próprios deuses
quedarão insones.

.....................................

[mórbida]

Quem nunca, estando só,
Horrendamente só,
Não largou os afazeres,
Sumiu na noite
E foi se haver às portas da Insânia,
Tremendo gélido,
Ávido por qualquer resposta,
E, nesse canto do abismo,
Não ouviu entre os grilos
E a brisa mórbida,
Vinda de nenhum lugar
E de toda parte,
Uma voz jamais ouvida,
Mas tão serena e amiga,
Dizer-lhe: “vem”?
Quem nunca, estando só,
Horrendamente só,
Não largou os afazeres,
Sumiu na noite
E foi se haver às portas da Insânia?

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